Criada por um punhado de imigrantes italianos em 1914, a Sociedade Esportiva Palmeiras consolidou uma torcida de caráter nacional ao longo do último século, fazendo jus ao status de “maior campeão do Brasil”. Exatos 103 anos após a fundação, o clube estabelecido no valorizado bairro da Pompeia tem a memória de seus dirigentes preservada na periferia de São Paulo.

Na humilde vizinhança de Americanópolis, Zona Sul da capital paulista, milhares de pessoas transitam diariamente pela rua Delfino Facchina, paralela à Mario Frugiuele. Outras tantas vivem na Angelo Dedivitis, entre a Ferrucio Sandoli e a Comendador Artur Capodaglio. Ou então na Doutor Rafael Parisi. Todas batizadas em homenagem a antigos dirigentes do clube fundado como Palestra Itália.
Há diversos logradouros com o nome de ex-diretores palmeirenses, alguns em cidades do interior paulista, mas em nenhum outro local eles estão agrupados como em Americanópolis. As ruas do bairro foram batizadas entre junho de 1980 e julho de 1981, durante a gestão do prefeito Reinaldo de Barros, então integrante da Arena, partido de sustentação da Ditadura.

Em contato com a Gazeta Esportiva, alguns dos principais estudiosos da história do Palmeiras se mostraram surpresos com a homenagem aos antigos dirigentes no bairro da Zona Sul. A subprefeitura de Cidade Ademar também não possui maiores informações sobre o assunto. Assim como Carlos Bernardo Facchina Nunes, sobrinho de Delfino Facchina, um dos maiores presidentes da história do clube.

“Não sei, filho. Nunca estive nesse lugar, inclusive. É algo honroso, um orgulho. A lembrança é importante, mas eu sou meio avesso a esse tipo de coisa”, justificou Carlos Bernardo, que também presidiu o Palmeiras. “Tempos atrás, quando havia notícia de algum crime, muitas vezes era por ali. Mas, hoje, deve ter melhorado, né?”, questionou.
Independentemente dos pormenores da homenagem, se o Palmeiras chega aos 103 anos na condição de maior campeão do Brasil, deve parte disso aos diretores lembrados em Americanópolis, de acordo com o jornalista Fernando Galuppo. Mario Frugiuele, por exemplo, presidiu o clube na conquista da histórica Copa Rio 1951 e Delfino Facchina, durante a Primeira Academia.

“Foram homens de vanguarda, que deixaram um legado esportivo, social, administrativo e patrimonial. Então, não é de se espantar que tenham sido homenageados como contrapartida pelos serviços prestados não só à Sociedade Esportiva Palmeiras, mas à comunidade que pertenciam”, afirmou o estudioso da trajetória do clube.
Em muitos momentos, as histórias dos principais clubes paulistanos e da própria cidade de São Paulo se entrelaçam. Ao comentar o assunto, Galuppo lembrou que rendas de partidas de futebol foram empregadas tanto na construção do monumento a Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel, quanto no fechamento da cúpula da Catedral da Sé.

“A vida social até o início dos 1970 passava muito pelos clubes e os personagens centrais do mundo político estavam fatalmente ligados a algum deles. O próprio Palmeiras sempre teve uma relação particular com agentes da municipalidade e podemos ver a manifestação disso com a homenagem em uma rua ou praça”, exemplificou.

Na noite desta segunda-feira, em uma casa de shows nas imediações da avenida Francisco Matarazzo, personagem intimamente ligado ao Palmeiras, o clube promove seu tradicional banquete comemorativo. Em um ano decepcionante, Maurício Galiotte pode se mirar no exemplo dos antecessores Mario Frugiuele, Delfino Facchina, Ferrucio Sandoli e Rafael Parisi, todos campeões como presidentes, hoje discretamente homenageados muito além da Pompeia.
Por Gazeta Esportiva, veja a reportagem completa abaixo: