Nos anos 50 foram anos tensos na nossa região, em 1959 um avião caiu na Vila Clara matando cerca de 20 pessoas, todos os tripulantes após a queda tiveram seus pertences roubados, detalhamos tudo em nosso post sobre o acontecimento.
6 anos antes, descobrimos que outro acidente aéreo ocorreu na região, mas desta vez em Americanópolis, que já estava com alguns moradores na época que tinham acabado de comprar os terrenos, o local que caiu chamava-se ‘Morro da Santa Catarina’, mas os jornais destacavam muito bem que foi em Americanópolis.
Sobre a Aeronave
Lockheed Constellation, Connie ou apenas Constellation, é um avião quadrimotor a pistão, construído pela americana Lockheed entre 1943 e 1958, em Burbank. Foram construídos ao todo 856 aparelhos em 4 modelos, todos com o mesmo design característico cuja forma de golfinho possui tripla empenagem. Foi um avião muito usado no transporte de passageiros e como avião de transporte militar. Foi o avião presidencial de Dwight D. Eisenhower, presidente dos Estados Unidos.
O PP-PDA tinha capacidade para transporte de 50 passageiros em curta distância e 43 para as travessias transatlânticas, pesava quarenta e cinco toneladas e estava equipado com quatro motores Wright Ciclone de 2.500 HP, que lhe proporcionavam uma velocidade de vôo de 468 quilômetros, podendo ser aumentada para 560 quando necessário. Estava dotado dos mais recentes aperfeiçoamentos técnicos, inclusive aparelhagem de rádio e vôo cego.
O aparelho não apresentou qualquer irregularidade, estando em perfeitas condições na última revisão que foi submetido.
O Acidente
No dia 17 de Junho de 1953 o avião decolou para o voo 263 do Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com destino ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, levando a bordo sete tripulantes e 10 passageiros.
Destes 10 passageiros, 7 deles ficariam no Aeroporto de Congonhas, os outros 3 seriam levados para Buenos Aieres.
Decolando no horário programado, o Constellation seguiu a viagem para São Paulo sem contratempos, o tempo estava normal, tanto que até a equipe de Vôo entrou em contato com a torre para comunicar que o vôo estava ‘Tudo bem a bordo’, por último fizeram uma chamada a torre pedindo campo para pousar na pista, após este pedido, um dos motores do quadri-motor explodiu em pleno vôo, incendiando o aparelho que veio perdendo a altura até cair em Americanópolis, em um local denominado de ‘Morro da Santa Catarina’, um bosque cheio de Eucaliptos cortado por algumas vielas.
Às 21:35 horas, a aeronave iniciou a aproximação para a aterrissagem na pista 34 (atual 35) do Aeroporto de Congonhas. Ao iniciar a curva para interceptar a reta final à pista de pouso, o avião subitamente perdeu altitude e desceu em direção ao solo causando uma grande explosão.
Presume-se que o acidente ocorreu devido a um erro de julgamento por parte da tripulação durante a aproximação para o pouso sob más condições de visibilidade à noite.
Completamente Destruído
A chegada da Reportagem do local, encontrou o avião completamente destroçado e ainda tomado pelas chamas, constatou-se que o piloto tentou realizar um pouso forçado.
Constatou-se também de primeiro momento que o comandante do avião, percebendo a tragédia a seguir, determinou que fossem abertas as portas do aparelho, constatou-se isso pois vários corpos totalmente carbonizados foram retirados de cima das arvores.
Ao colidir na região, o avião ‘varreu’ o morro numa longa extensão e se destroçou em dois pontos, abrindo duas clareiras. A explosão chegou a ser ouvida por mais de 5 quilômetros de distância.
Uma parte do aparelho, provavelmente a cabine de comando, foi encontrada a cerca de 70 metros de outra parte, onde em meio a extensa figueira, se viam distintamente dois motores e as asas.
Os outros dois motores estavam mais alem, na segunda clareira, menor que a primeira, onde foram encontrados os corpos de nove vítimas. Nesta segunda clareira o fogo foi de menores proporções, logo em seguida ao rastro deixado pelo avião, assinalado por inúmeras árvores derrubadas, as chamas assumiram grandes proporções, iluminando uma área de cerca de 300 metros quadrados.
O avião ficou reduzido a migalhas, restando intactas apenas 3 rodas, uma encravada entre pequenos arbustos e duas outras encontradas no fim da pequena estrada que atravessa o morro e separava as duas clareiras.
Curiosos Atrapalharam os socorros
No acidente ocorrido na Vila Clara, alguns moradores tiveram a ousadia de roubar os pertences das vítimas mesmo dilaceradas no solo, não foi diferente do acidente em Americanópolis, após as rádios anunciarem a queda do avião, muitos carros e até bicicletas se dirigiram ao local para ‘assistir ao espetáculo’. Isso acabou deixando as vias completamente intransitáveis para acessar o local do acidente, dificultando a chegada dos bombeiros, que nem no local chegou completamente por conta disso, a equipe de jornalistas ainda completa dizendo que viu inúmeras pessoas com crianças no colo demonstrando completamente falta de senso/comoção pelo trágico ocorrido.
A chegada do Resgate
Para o socorro chegar, tiveram que atravessar uma viela em uma extensão de 600 metros, o arvoredo que estava com chamas altas foi apagado com uso de extintores, assim já localizando a primeira vítima, inclusive na própria viela próximo a uma poltrona, o que constatou que era um passageiro.
Na primeira clareira os bombeiros tiraram três corpos carbonizados, meia hora depois, mais 2 cadáveres foram encontrados no mesmo estado.
Na segunda clareira, que para chegar foi necessária a abertura de duas picadas e uma ponte feita de troncos de árvores, encontraram-se 9 corpos. Dos quais dois mutilados e não carbonizados, um (da aeromoça) parcialmente carbonizado e seis totalmente calcinados. Por volta da uma hora da madrugada já haviam sido recolhidos 15 cadáveres, faltando a localização dos dois restantes, visto como eram 17 as pessoas que estavam a bordo da aeronave – 7 tripulantes e 10 passageiros.
Por volta das 3 horas, os bombeiros encontraram, na segunda clareira, os dois corpos restantes, um dos quais carbonizado, foi localizado entre os galhos de uma árvore.
Solideus de cardiais entre os destroços
Entre os destroços, que eram pacientemente rebuscados pelos bombeiros, foram encontrados intactos, sem apresentar qualquer dano nem mesmo leve mancha, dos solidéus brancos, geralmente usado por cardeais. Nas proximidades do local onde os bombeiros acharam os dois solideus imaculados, foram achados também três cartões, um com o timbre da ‘Anticâmara Pintificia’ com os seguintes dizeres em italiano: ‘Vaticano, 10/6/1953 – Lo zuc chetto blanco che viene consegnato com questo biglietto é staio usato de Sua Santitá PIO XIII. FR / IL CAMERIERE SEGRETO PARTECIPANTE – di servizio – (Assinatura ilegível)
Testemunhas viram o avião cair
Uma das testemunhas ouvidas pela reportagem da Globo afirmou ter presenciado o momento do desastre, disse que viu o avião explodir antes de tocar no solo. Adiantou que pressentiu a catástrofe quando viu que o aparelho, seguindo em direção ao que ele chamou de ‘Cidade Adhemar de Barros (Cidade Ademar)’ parecia sustentar-se no ar com dificuldade, dando a impressão que estava caindo.
Na época os moradores da região já estavam acostumados em ver dezenas de aviões mais próximos, por nosso bairro ser vizinho do aeroporto de Congonhas.
Sobre as Vítimas
O Comandante do avião, Bruno Rotta, aviador experiente, que contava em sua folha de serviços um total de 6 mil horas de vôo, sem qualquer acidente, era ainda assistido por mais dois veteranos, Agenor de Paula Duque e Armando Sousa Coelho.
A quase totalidade das vítimas foram identificadas já no dia seguinte do ocorrido, transportadas para o Necrotério do Araçá, foram elas reconhecias por parentes e amigos. Os restos mortais que encontraram seriam do comandante Bruno Motta e do Engenhero de vôo Darci Barros, que aguardaram na época quem apontaria neles qualquer característica especiais para facilitar a identificação.
Dentre as vítimas encontravam-se figuras da alta sociedade paulistana, como o Sr. Manuel de Almeida Filho e esposa, a Sra. Marla Cecília Cardoso de Almeida Filho, filha do Sr. Lauro Cardoso de Almeida, presidente da Cia. Paulistana de Seguros, e antigo presidente da Associação Comercial.
A Sra. Adibe Buzaide, esposa do Prof. Alfredo Buzaide, livre docente de Direito Judiciário Civil, e seu filho Alfredo, que regressavam de Londres, onde tinham assistido a coroação da Rainha Elizabeth II, uma hora antes o jovem Buzaide telefonaria a seu pai para cumprimentá-lo e informar que a viagem decorria normalmente.
O jornalista Shemuel Noam, correspondente do jornal ‘Hador’ de Tel-Aviv, Israel.
Os outros corpos foram entregues as famílias, devendo a remoção dos que serão sepultados fora de São Paulo, foram transferidos por via aérea, com avião especial da Panair.
Escaparam por pouco
Durante a escala no Recife, foi convencido por Etelvino Lins, então governador de Pernambuco, a acompanhar o ministro José Américo de Almeida, que seguiria para o Rio de Janeiro em outro avião. A insistência de Etelvino salvou a vida de Chateaubriand.