O começo do Parque Nabuco

No ano de 2019 o Parque Nabuco comemora seus 39 anos de existência desde sua inauguração um dia após o aniversário de 426 anos de São Paulo, o parque é um dos poucos espaços verdes que temos em todo o distrito.
Apesar de um grande abandono da prefeitura em relação a zeladoria do local (Comparado ao seu parque vizinho mais próximo, o do Cordeiro), é um local muito querido e frequentado por muitos moradores, seja para respirar um pouco de ar da natureza ou praticar exercícios.

Apesar do parque estar bem próximo da região da Cidade Ademar, a prefeitura responsável pelo local é a do Jabaquara, a sua área total conta com 31.300m².
Segundo a prefeitura sobre sua área interna:
Apresenta vegetação composta por remanescente de Mata Atlântica, bosques heterogêneos, áreas ajardinadas e gramados. Destacam-se aroeira-mansa, camboatá, carobinha, embaúba-branca, faveira, guaçatonga, jatobá, maria-mole, pau-ferro, pinheiro-do-paraná e tamanqueiro. Foram registradas 141 espécies, das quais 7 estão ameaçadas como a canela-amarela, a copaíba e o pau-marfim.

O seu nome é uma homenagem a Fernando Nabuco de Abreu, constado que antes de se tornar parque, foi sua moradia por um longo tempo.

E já bateu a curiosidade em saber quem foi Fernando Nabuco? Com bases em nossas pesquisas vamos lhe contar um pouco sua biografia com mais detalhes sobre a história da região do parque:

O ‘Antes’ de se tornar um parque!

Fernando Nabuco De Abreu vem de uma família de campeões olímpicos, nascido em 23/07/1906 foi tri campeão de remo (1927, 1928 e 1929) e ainda fez parte da equipe Brasileira de remo nas Olimpíadas de Los Angeles em 1932.
Além de ser atleta, Fernando era loteador, onde na época era um negócio lucrativo com a expansão da Cidade de São Paulo avançando cada vez mais em áreas onde não eram urbanas.

Vieram morar na região no fim da década de 30, o parque era apenas uma Chácara, com o nome de ‘Chácara das Paineiras’, e no ano de 1944 nasce um de seus filhos, Fernando Nabuco de Abreu, que desde sua infância foi incentivado a seguir a carreira no esporte, e assim se tornou um grande nadador, sendo acordado todos os dias cedo pelo pai para poder treinar em uma piscina de 12,5 metros durante sua infância na região, nos anos 50 treinou no Clube Banespa, que existe até hoje na Avenida Santo Amaro e era próximo da região.
Na foto aérea abaixo, de 1959, ainda mostra a piscina que Fernando fazia seus treinos.


Na foto aérea de 1958, mostra o Parque Nabuco em suas origens!

O início do Parque

O que se sabe, é que os Nabucos viveram na Chácara no fim da década de 30 até os anos 60, e passou por um longo processo para se tornar um parque público, sendo aprovado e desapropriado em 1972 pelo prefeito Olavo Setúbal, o parque chegou a ser invadido/ocupado por outras famílias, se tornou também local para uso de drogas e depósito de lixo, tudo isso está relatado em uma matéria do Folha de São Paulo na data de 1978.

“Uma área de 31.260 metros quadrados na Cidade Ademar, divisa com o bairro do Jabaquara, que serve atualmente como esconderijo de marginais, depósito de lixo e onde há um pequeno campo de futebol, será transformada no Parque Nabuco. Anteprojeto a respeito já foi aprovado pelo prefeito Olavo Setúbal. Desapropriada em 1972 por 40 milhões de cruzeiros, essa área, que pertencia a um certo Fernando Nabuco, está totalmente abandonada”

Em 1978, foi dado mais descrições de como a antiga residência dos Nabucos estava abandonada:
“Cheia de lixo e entulhos de construção e localizada na Avenida Cupecê, a área ainda conserva algumas paredes da casa do ex-proprietário Fernando Nabuco, bem como a piscina, que também pertencia a então chamada ‘Chácara das Paineiras’. Hoje, ali tudo é lixo e lama.”

Depoimento de uma Ex-moradora do Parque

E na matéria, revela mais uma personagem para nosso museu de personalidades, a Euflosina Araújo, que foi moradora do parque enquanto era abandonado e resistiu a desapropriação da prefeitura.

‘Ainda em um barranco, onde vive Euflosina Dercisa de Araújo, de 46 anos, que afirma morar no local há mais de 11 anos. Confiante, ela acredita que a prefeitura não vá ‘fazer nada, ou mexer aqui no Terreno’.
Mas se a obra vier a ser executada, Euflosina Araújo, afirma que ‘eles tem que me dar alguma coisa’. Observando que ‘isso aqui é uma imundice, só falta jogarem o lixo dentro da minha porta’ ela acrescenta: ‘O filho do ‘seu’ Nabuco disse para meu filho, que ainda mora comigo, que ninguém vai tirar a gente daqui.’
A transformação da antiga chácara em um parque vem sendo bem recebida pelos moradores, pois, conforme afirma José Carlos da Silva, de 18 anos, não há nenhum local de lazer no bairro, além dessa área que devido ao abandono ‘tem diariamente policiais a procura de marginais’.’

Foto de Euflosina no Jornal, sobre seu depoimento, já mostra que a família Nabuco já sabia e inclusive até conhecia os moradores atuais do local, e para se transformar o parque com certeza foi aprovado por muitos moradores devido já a falta de locais de lazer na região.


Já uma foto antiga, preto e branca de jornal, mostra um pouco de como o parque era na época em 1978:

A inauguração do Parque

O parque foi entregue no aniversário de São Paulo, dia 25 de Janeiro de 1980, junto com muitas outras obras na Capital, mas sua inauguração com a participação da população foi no dia 26!

Em uma matéria do ano de 1980 da Folha de São Paulo, deu a descrição de como o parque foi inaugurado na época:

‘Com área de 31.390m², o Parque do Nabuco, localiza-se numa região com poucas áreas verde, excetuando-se pequenas e raras praças. Junto ás ruas Virgilio Lemos, Frederico Alburquerque e Av. Cupecê, o parque foi fechado por grades, com recuos junto á Rua Frederico Albuquerque, ali foram plantados estares, voltados para a rua, que funcionarão como uma praça aberta ao público 24 horas por dia.
O projeto previu, ainda, a preservação do bosque, que recebeu várias espécies de nativas, além de árvores frutíferas, para atrair os pássaros. Ao todo, foram plantadas 700 árvores, como carambolas, jequitibás, paineiras, jambolão, Ingás, jatobás, jerivás, ipês, quaresmeiras, manacás da serra e outras.
O parque conta também com quadra de uso múltiplo, bem como ‘play-ground’, bancos, churrasqueiras, sanitários, vestiários e administração.’

O povo Inaugurou!

Uma curiosidade: Devido a demora, os moradores da região decidiram em não aguardar a prefeitura inaugurar o parque, e com isso no dia 26 de Janeiro os moradores, por espontânea vontade, inauguraram o parque!

“O povo não esperou o descerramento da fita inaugural, guardada por zelosos funcionários municipais, e tomou conta dos 32 mil metros quadrados do Parque Nabuco, situado na Avenida Cupecê, na Cidade Ademar. O parque é a primeira área verde da região. Sua inauguração foi cuidadosamente programada, mas o atraso das autoridades impacientou o povo. Sem ligar para os discurso de líderes de sociedade amigos de bairros, o povo foi chegando ao parque, entrando, tomando conta da área divertindo-se. As crianças brincaram a valer..
Alguns estagiários da Paulistur, que estavam ali para inventar brincadeiras para as crianças, ficaram sem ação e passaram a ser somente espectadores. As crianças queriam era mesmo brincar ‘sem ajuda dos adultos’ e de todas as ‘surpresas’ preparadas pela Prefeitura, elas gostaram apenas dos artistas do Sítio do Pica-pau amarelo, principalmente da Emilia e da Onça. E nem precisaram de apresentações para conhecer essas personagens. Soltavam-se do colo dos pais e corriam para abraçar descontroladamente os artistas.
Cerca de 100 mil moradores de 42 vilas da Zona Sul poderão agora frequentar uma área verde, benefício reivindicado e esperado há muito tempo.
Quando o secretário de Obras, Paulo Gomes Machado, acompanhado da mulher, descerrou a fita, solenidade a que poucos se deram ao trabalho de assistir, o parque já estava inaugurado há algum tempo.”

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